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DOIDEIRA ACORDADA DA NOVA REALIDADE

Quando criança – isso no Ceará dos anos 1960 – pesadelo fazia parte do sono de menino. Lendo sobre o assunto encontrei: faz parte de um “estágio regular” do processo do desenvolvimento. Solução, na época: acender a luz do quarto e correr veloz para a cama da mamãe. Quase sempre resolvia. Na verdade - os pesadelos - nunca acabam e vez por outra, nos pegam pelo pé. São descritos como “sonhos vívidos”, de conteúdo perturbador e trágico, que costumam causar sensações negativas e ruins. Os meus pesadelos – todos, sempre - começam e terminam em brigas, chutes e cabeçadas certeiras. Já andei procurando saber sobre o assunto e a explicação dada foi - quase - uma sentença: Você tem dificuldade em lidar com os problemas atuais! Aceitei. Depois de uma boa luta feroz - repleta de golpes mortais - costumo acordar relaxado, disposto e com a endorfina em dia. Hoje lendo a coluna do jornalista Hélio Schwartsman, sobre o livro “O peso da natureza” ("The Weight of Nature"), do neurocientista Clayton Page Aldern fui obrigado a concordar - assustado - com a mensagem apocalíptica da obra. O livro, que analisa impacto da mudança climática em nossos cérebros, prevê homem mais violento, burro e ansioso. Gostei da chamada! Diz o livro: “Um mundo em rápida transformação produzirá um cérebro também afeito (acostumado, habituado) a mudanças, por vezes súbitas e dramáticas... O calor nos torna mais violentos! O aumento de doenças transmitidas por animais devido ao aquecimento global já está no radar de todos. O habitat de mosquitos e outros vetores será ampliado. A mudança climática, diz o autor, está também dentro de nós. O calor nos torna mais violentos e faz piorar nossa performance em tarefas cognitivas. Até os árbitros esportivos cometem mais erros (obrigado a concordar, plenamente) quando a temperatura sobe. Até a temível ameba comedora de cérebros, que já aparece em lugares onde antes não aparecia... O retrato, segundo Clayton Page Aldern, como deu para ver, é assustador. Temo que as minhas lutas noturnas, em breve, perderão lugar para a nova realidade. Ou, finalmente, dormirei em paz, mais violento, burro e ansioso. 

João Scortecci