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GALILEI E A ERUDIÇÃO DA MENTIRA

Acordei - solenemente - renegado de crenças e opiniões. Eu e o astrônomo Galileu Galilei. O que dizia mesmo o bilhete do Santo Ofício? Perguntei. Para eu descrer e abjurar das ideias, algo assim. De todas elas? Sim. De todas! E de uma em especial. De que a terra não é o centro do universo. É negar - solenemente - ou então morrer queimado na fogueira das vaidades. Galilei, você está abduzido? Possuído? O que mais você disse na audiência? Nada de mais, apenas bobagens. Disse que a Terra gira ao redor do sol e que ela não é o centro de nada, além da desgraça humana. Não acredito! Galilei, você é um exibicionista. Um incontido!  O que faço agora? Perguntou-me. Quer um conselho de poeta: vai lá e descrer tudo! Diga que estava doente, com febre. Com dengue, algo assim. Mentir está - sempre - na moda! Ou melhor: diga que é tudo culpa da sapiência dos livros. Sapiência dos livros? Sim. Pega carona na onda da vez: censurar autores e livros! Virou febre. E se o estratagema não funcionar? Você morre na fogueira, simples assim! Vira carvão! Diga que foi excesso de conhecimento inútil. Cansaço. Bebedeira de vinho ruim, qualquer coisa. Tentação do capeta! Diga-me: Quer salvar o pescoço ou não? Quero! Então vai lá e alega loucura temporária. E mais: nada de assinar delação premiada! E depois “rasga” o bilhete e some, solenemente, do mapa. Abjura! Abjura! Que horas são? 4h15. Cedo, ainda. Deita e dorme. 

João Scortecci