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PAVILHÕES AURICULARES DO CAPETA

Outro dia – lendo um poema vampiresco de um vate da área da medicina – encontrei a expressão “pavilhão auricular”, parte externa e cartilaginosa da orelha. Quando criança – isso lá no Ceará dos anos 1960 – chamávamos “pavilhão auricular” de “caracol do capeta”. Algo assim. Mamãe Nilce adora puxá-las e torcê-las, sem dó ou piedade. Menino danando! Dizia sempre. Puxava e depois, docemente, ameaçava: “No banho, lava as orelhas!” Um dia puxou com tanta força as minhas orelhas que fiquei mouco e com zumbido nas ideias. Mamãe, então, zelosa e preocupada, levou-me num otorrino, da Fundação J. Macedo, onde papai Luiz trabalhava, na época. “Doutor o menino ficou surdo!” Disse. O médico – especialista em pavilhões, caracóis e música sertaneja – pegou uma pinça e puxou de dentro dos meus ouvidos chumaços de algodão. “Pronto” Disse. Aqui confesso: desde então, assustado, passei a lavar – dia sim, dia não – os meus caracóis auriculares. É dessa época, também, o uso regular, nos pavilhões do capeta, de hastes flexíveis, cotonetes Johnson & Johnson. Hoje, conferindo a lista dos aniversariantes do dia, vi que Michael Tyson, um dos maiores boxeadores peso-pesado de todos os tempos, nasceu no dia 30 de junho. Parabéns! Tyson - é o que dizem - é fissurado, apegado - em orelhas. Tarado mesmo! Lembro do dia, em 1996, que mordeu e arrancou um pedaço da orelha do também boxeador, Evander Holyfield. Alguém na arena gritou: “Engole, engole! E Tyson, em transe, cuspiu fora, frutando milhões de vampiros telespectadores que assistiam a luta. Histórias não faltam! No manual “Caracóis do Capeta”, a máxima: “Morder e puxar, depois assoprar e cuspir!”. A título de curiosidade, em termos técnicos, orelhas normais, não vandalizadas, medem de 5,5 a 6,5cm de comprimento x 3,0 x 3,5cm de largura. E com amor: pior ainda!

João Scortecci