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FORMIGAS, GRILOS E FOGUETES DE MADEIRA-BALSA

O projeto do Instituto Militar de Engenharia do Exercito Brasileiro chamado “Felix I” ("Operação Miau”), liderado pelo Tenente-Coronel Lage (Manoel dos Santos Lage), com a colaboração dos cientistas Carlos Chagas Filho e César Lattes, que visava, em 1959, levar um gato de nome “Flamengo” ao espaço, felizmente, teve que ser cancelado, devido a pressões de grupos defensores de animais. O foguete tinha um diâmetro externo de 400 mm, 4,3 metros de comprimento e uma massa total de 350 kg, um único estágio, movido com pólvora, programado para atingir uma velocidade máxima de 1950 m/s. A idéia de enviar um gato para o espaço foi do médico, professor, acadêmico e diplomata Carlos Chagas Filho (1910 – 2000), fundador do Instituto de Biofísica da Universidade do Brasil e filho do médico sanitarista Carlos Chagas e de Íris Lobo Chagas. A idéia de “jirico” por sorte não vingou. Não sou especialista, longe disso, mas inteligente o suficiente para “imaginar” que teríamos no final da odisseia, um gato “torrado”. Na infância, isso no Ceará dos anos 1960, Eu e meus irmãos Luiz e José, construíamos foguetes com madeira balsa, replicas de modelos russos, inspirados no espírito do cosmonauta Yuri Gagarin (1934 - 1968). O foguete de madeira-balsa tinha cabine para um astronauta, quase sempre ocupada com por uma formiga tanajura ou um grilo. Lacrávamos a cabine do foguete com Band-Aid. Aqui cabe uma observação: antigamente o adesivo do Band-Aid era cheio de furinhos, o que possibilitava condições para o astronauta respirar e não morrer sufocado. As tentativas de voo foram muitas - dezenas, talvez - e quase sempre, no final, depois do resgate, o astronauta retornava morto. Era eu quem acendia o rastilho de pólvora. 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, 0. Fogo! Luiz, o irmão mais velho, o projetista do foguete e José, o irmão do meio, o carpinteiro. Apenas um astronauta sobreviveu: uma formiga tanajura. Quando foi retirada da cabine do foguete, parecia uma bolinha de cera. Meu irmão Luiz cutucou-a com a ponta de um lápis e ela, milagrosamente, saiu andando, inteira, perdida, na direção do tempo e da memória sideral.     

João Scortecci