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“PAU NA MÁQUNA” E OS PRIMÓRDIOS DA GRÁFICA SCORTECCI – Parte 2

Nos anos 1986, no início da Gráfica Scortecci, liberação de miolo de livro e arte de capa para impressão funcionava assim: batia o olho e dizia: “Pau na máquina!” Simples assim. Tinha um impressor de máquina offset que, na época, trabalhava com um porrete de pau de Jucá do lado da máquina. “O que é isso?”, perguntei-lhe, um dia. Ele me olhou e respondeu, docemente: “É para acalmar quem mexer comigo!”. E ficou. Alguns dias depois do recado dado - apareci na gráfica com o meu revólver Taurus 38, cano curto, na cintura. Ele viu o cano do trabuco. Fiz questão de mostrá-lo, passivamente. “Patrão, o que é isso?”. Pergunto-me, surpreso. “É para espantar espíritos ruins”, respondi. E, ali mesmo, no pé do embate, contei-lhe, em versos, a historinha rasteira, que todo nordestino esperto, conhece, sabiamente: “Sabia que cearense não tem inimigos?”. Ele riu, desconfiado. Ele entendeu o recado, na hora. Nem precisei terminar de contar toda a historinha do bom cearense e o seu final: “Estão todos mortos!”. Esperei, então, ele terminar de imprimir o caderno e colocar na máquina, outra chapa. Tirou uma prova do serviço e mostrou-me, aos olhos. Perfeito! Sussurrei, então, no pé do seu ouvido: “Pau na máquina!”. Ele, então, pegou o porrete de pau de jucá e bateu na máquina, três ou quatro porretadas, com força. Risos. E ficou, assim. Durante muito tempo, quando o serviço era liberado para impressão, a senha era: “pau na máquina”. O porrete ficou lá, passivo e dócil, durante anos, encostado no dorso da máquina Rotaprint. Um dia tive que demiti-lo, isso no início dos anos 1990. O motivo da demissão, aconteceu, mais ou mesmos assim: cheguei na gráfica - uma sexta-feira, final de mês - e da porta escutei gritos e o maior agito. Uma briga feroz. Ele, o impressor do porrete do pau de jucá e o auxiliar de impressão, um magrelo, com uma faca. Gritos! Tive que agir, rápido. Desarmei primeiro, o que carregava a faca. Zunia com a lâmina, trocando de mãos, com habilidade. Era, visivelmente, destro. Na segunda troca de mãos, da direita para a esquerda, chutei forte. A faca voou longe. E com a minha direita, acertei um murro, no queixo do magrelo. Ele caiu duro, desacordado. Depois, foi a vez do moço do pau de jucá, que mansamente, temeroso de ser surrado, também, depositou o porrete no chão e levantou os braços. Já disse: liberação de miolo de livro e arte de capa para impressão na Gráfica Scortecci, isso nos anos 1980, funcionava assim: batia o olho e dizia: “Pau na máquina!” Simples assim. Fiquei sem impressor na gráfica por quase um mês. Maior sufoco. Juntei, então, os funcionários e decretei: “Pau na máquina é a puta que o pariu!” Sorte que as coisas mudaram, as máquinas offset foram embora e a tecnologia trouxe, então, os duplicadores de tinta e logo depois, as máquinas digitais. 
  
João Scortecci