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PICOTADEIRA DE PEDAL E OS PRIMÓRDIOS DA GRAFICA SCORTECCI - PARTE 3

Montei a Gráfica Scortecci no ano de 1986, quatro anos depois da editora. Estava confortável imprimindo os livros da editora na "De Sá Copiadora", uma pequena gráfica, fundada em 1968, que ainda existe e hoje funciona no endereço da rua Francisca Miquelina, 155, no centro da cidade de São Paulo. Eram - na época - três sócios: Bernardo, Roberto e Sérgio. Os dois primeiros já faleceram. No ano da pandemia da Covid 19, conversei, pelo telefone, com o sócio Sérgio. Prometi visitá-lo, mas com o agravamento da pandemia, o encontro foi adiado e acabou não acontecendo. Até o ano de 1986 a Scortecci tinha em catálogo, aproximadamente, 500 títulos, em primeira edição. Foi o sócio Bernardo que, então, na época, comunicou-me o fim da parceria: "Scortecci, vamos ter que parar de imprimir os seus livros." Disse. “Fechamos um contrato com a General Motors (GM) para imprimir, mensalmente, o catálogo deles de peças e serviços." Explicou. "Muito serviço!". "Mas fique em paz - disse - você não vai ficar na mão!". Tranquilizou-me. Dias depois, Marinho, gerente da De Sá Copiadora, apresentou-me o seu irmão caçula, de nome Claudio, Operador de IBM Composer, que por sua vez, levou-me até ao impressor Lamartine, que trabalhava em casa, na Vila Santa Teresinha, Zona Leste, de São Paulo. A ideia era simples: imprimir fora e fazer o acabamento dos livros num local próprio. Montei, então, o início da Gráfica Scortecci, uma pequena oficina, com apenas três máquinas: uma guilhotina manual de 50 cm de boca, para corte e acabamento dos livros, uma vincadeira, para vincar capas e uma picotadeira de pedal, para picotar as folhas impressas ao meio e depois dobrá-las, formando, então, os cadernos. Para operar a picotadeira de pedal contratei uma moça, magrela, feia de doer, que tinha pernas finas, verdadeiros palitos de dente. A moça passava o dia inteiro trabalhando na máquina, picotando papel. Não largava o serviço por nada. Trabalhava feliz e sua produção diária era incrível. “Você gosta de trabalhar na picotadeira?” Perguntei-lhe, um dia. “Sim. Muito.” Respondeu-me. “Posso saber o motivo?” Insisti. “Preciso engrossar as minhas coxas e pernas.” Justificou-se. "Não tenho condições de pagar uma academia e a picotadeira faz o serviço!" Concluiu, sorrindo. E assim foi. Alguns meses depois - confesso - suas belíssimas pernas, eram o assunto na empresa. De saia, subindo a Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, do Largo até a Rua Francisco Leitão, onde ficava a oficina, causava furor, suspiros, piadinhas e assobios. Trabalhou na gráfica, exatos, dois anos e alguns meses. Um dia, do nada, chegou e pediu as contas. Tomei um susto. “Posso saber o motivo?” Quis saber. “Aconteceu alguma coisa?” Perguntei-lhe, curioso. “Nada. É que eu vou me casar e mudar de cidade." Explicou. "Vai, então, largar o emprego?" Insisti. "Sr. Scortecci, já consegui o que queria: pernas bonitas e um marido rico!”. E assim aconteceu. Despediu-se de todos e escafedeu-se! O jeito foi, então, vender a picotadeira de pedal e comprar, uma picotadeira elétrica. 

João Scortecci