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A HISTÓRIA DO AERO WILLYS DE MATAR DO CORAÇÃO

Não sei o que é pior: morrer do coração ou matar alguém do coração. Morre-se! No ano de 1971, pegar um taxi na cidade de Fortaleza era o máximo: um luxo! Fazíamos tudo a pé ou de Rural. Naquele dia estava com a mesada no bolso e precisava chegar ao IBEU - Instituto Brasil - Estados Unidos, num piscar de olhos. Tinha exame de inglês e estava atrasado. Do portão de casa avistei um taxi branco, um Aero Willys, novinho em folha, dando sopa do farol da esquina. Não tive duvidas: corri e entrei, com um pulo esperto, no banco de trás do taxi. Gritei - apressado - para o condutor do "carrão", um senhor de idade, gordo, cabelos brancos e óculos fundo de garrafa: “Toca urgente para o IBEU!” Não satisfeito, cutuquei suas costas com o dedo indicador. O senhor, assustado, levantou os braços e apagou, desmaiando, em cima do volante do Aero Willys, disparando a buzina. Fiquei ali, parado, inerte, apavorado. Um casal aproximou-se da janela do carro – aberta, o calor era infernal – e perguntou-me: “O que aconteceu?” Desmaiou, acho. Respondi. Juntou gente. Vizinhos.E até um tetél, carro de Rádio Patrulha. Tiraram o senhor do carro e o colocaram sentado, numa banquinho de madeira, no portão da casa da Familia Biasoli. Estava consciente - transpirava feito um porco - e depois de alguns minutos acordou, de vez. Olhou-me nos olhos e perguntou: “Foi você que fez aquilo?” Quis saber. "Sim!" Respondi, balançando a cabeça. “Eu não sou taxi!” Disse-me, apontando o dedo para o teto do Aero Willys, abandonado, de portas abertas, no meio da avenida D. Manoel, quase esquina com a avenida Duque de Caxias. “Você entrou no carro errado!”.  Gritou. Sem saber o que responder, justifiquei-me: “E eu não sou assaltante!”. 

João Scortecci