Você é capaz de imprimir no espírito? Essa é nova e eu descobri hoje. É possível? Quis saber. Lembrei-me, então, de uma questão dos anos 1972: Qual a cor do amor? E nós - jovens de tudo - respondíamos pelo deus: amor não tem cor! Levávamos o cálice, as hóstias e o silêncio da alma, até o altar da igreja de Santa Cecília. E pronto. “O amor não tem cor!” Era a conclusão final e tudo ficava assim e por isso mesmo. Éramos felizes. E a loucura da flor de plutônio? Sei não. Existe isso? Desisto, de vez. Diga, então: Você é capaz de imprimir no espírito? Talvez. Eu sei transferir - vida e morte - para o papel, sei untar tintas, esfregar grafite nos olhos, riscar beijos na pedra sabão e até riscar versos na areia do mar. E imprimir no espírito: você sabe? Talvez. No passado tudo era mais simples. Bastava acreditar que o amor não tinha cor e pronto. E agora? Complicou. “Imprimir” é verbo transitivo da terceira conjugação e o “ir” é imperativo. Sinto saudade do clichê, do carimbo, da tatuagem do chiclete, do soldadinho de chumbo, das figurinhas carimbadas de futebol, da coleção de tampinhas, das balas de menta, do jogo com bolinhas de gude, das arraias no céu do Ceará e das linhas de cerol. Éramos felizes! E imprimir no espírito? Talvez.
João Scortecci
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