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OLHANDO TODAS AS MANHÃS

Oxxo (fala-se: Óquisso) em quase todas as esquinas de hoje! Nada contra. Veio e ocupou-se. Dizem que só na América Latina são perto de 20 mil lojas. Pergunto, por curiosidade: o que vai ser aqui depois de pronto? Um Oxxo. Vez por outra: uma nova farmácia ou ainda mais uma lojinha de capinhas para celular. Fora isso: nada de novo. Observo, desconfiado: o antigamente está desaparecendo. Saudade? Talvez. Descendo a Avenida Rebouças, observo: prédios e mais prédios. Novíssimos! E lojas vazias. Placas de “Aluga-se!”. É a nova Rebouças (André Pinto Rebouças, 1838 - 1898). Outro dia - curioso que sou - li a sua biografia. Engenheiro militar, abolicionista e inventor. Um militar abolicionista que inventou um torpedo - projétil explosivo autopropulsionado que opera debaixo d'água – usado, com sucesso, na Guerra do Paraguai. Desço a Avenida Rebouças, de carro, no silêncio de todas as manhãs, na direção da editora, no bairro de Pinheiros. Faço isso desde 1982. No relógio, pontualmente, 5h45. Prédios novos, lojas maravilhosas e vazias. Eu e uma pequena multidão de apressados, subindo ou descendo a Rebouças, carregando nas costas suas pesadas mochilas. Pergunta: o que será que carregam dentro delas? Tento adivinhar: marmita, tênis, muda de roupa, ferramentas de trabalho, livros e cadernos, tabletes, carregadores? Que mais? Não sei. Um dia descubro. Não consigo diferenciar um dia qualquer do outro. Dias iguais de andarilhos, de mochilas pesadas e lojas vazias. Oxxo meu povo. Oxxo!

João Scortecci