Solitude - estado de isolamento voluntário e positivo - serve para um monte de coisas. Serve até para curar solidão. Um amigo, na idade do lobo, na casa dos seus 40 anos de idade, comunicou-me: “João, vou tirar um período sabático!”. Perguntei-lhe, então: “Profissional ou pessoal?”. Ele não respondeu. Na verdade demonstrou confusão mental. “Existe diferença?” Quis saber. “Existe!”. Respondi. Minha pergunta - desavisada de tudo - mexeu com os seus miolos de lobo. Mudei, então, de estratégia, tentando salvar o amigo do engodo filosófico: “Período sabático aos 40 anos?”. Perguntei-lhe. “E tem época certa?”. Insistiu, com cara de assustado. “E agora?” Pensei. “O que está acontecendo com você?” Insisti. Ele baixou a cabeça - envergonhado, talvez - e sussurrou-me traços de sua dor: “Fui demitido do emprego e a minha mulher trocou-me por outro!”. Silêncio. “Lamento muito!” Disse-lhe. Ele, então, quis saber: “Período sabático atende os dois casos: profissional e pessoal?”. Respondi: “Acho que não!”. “Por que você não aproveita e curte um período de solitude temporária?” Sugeri. “Existe isso?”. “Existe”. Menti. Aconselhei-o, então: “No período da solitude temporária você, então, procurar outro emprego, cativa outra paixão e esquece, de vez, esse negócio de período sabático.” Sugeri. “Solitude serve para tudo isso?”. Perguntou-me, surpreso. “Serve!”. “Remédio para um monte de outras coisas!”. Menti, mais uma vez. Acho que o conselho funcionou. O amigo lobo - no melhor dos seus 40 anos - virou as costas e sumiu. Escafedeu-se! Nunca mais soube da sua alma. Ficou a graça: solitude é remédio que cura de tudo. Até dor de corno.