Vez por outra - basta uma faísca de olho, cheiro, gosto e vento – que lembramo-nos de alguém, do passado. Onde será que anda fulano: estaria vivo ou morto? Hoje - com a Internet e as redes sociais - brincar de “busca” até que é fácil e divertido. Outro dia - navegando, do nada - encontrei um garoto da minha cruel e doce infância no Ceará. Isso nos anos 1960. Gostava dele. Fiz contato e ele, então, passou-me, desconfiado, o número do seu celular. Liguei no ato. Foi triste saber que ali nada mais existia de nós. Um estranho. Em segundos percebi que não deveria ter ligado. Lembrei, lembrei, falei e nada. Nada o fez voar junto. Nem do chão saiu. Ele havia se esquecido de tudo: até dos nossos melhores pecados. Lembra? Não. "O que você quer?" Quis saber. Disse-lhe: nada! Desliguei-me, então. O tratante era, até então, um amigo de sangue. Abri o álbum de fotografias - com o melhor da nossa infância - e lhe cortei os pulsos.
João Scortecci