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AZEITE DE OLIVA, ÂNFORAS E O LIVRO DAS TENTAÇÕES

Uma ânfora: ainda não tenho – um dia, quem sabe – compro, ganho de presente ou, então, afano. Já surrupiei um livro! Não faz muito tempo. A epopeia aconteceu no último encontro de editores, livreiros, distribuidores e gráficos, em Atibaia, evento organizado pela CBL. Vi o livro e o coração resfolegou. Subiu nas alturas! Desejo incontrolável. “Quero o livro!” Disse. “Quanto?” Perguntei. “Não está a venda”. Foi o que escutei. Não gosto da palavra “não”. Ninguém gosta. “Vou então passar a mão!” Avisei. Risos, desconfiados. Foi o que fiz, perdidamente. Reencontrei o dono do livro – um editor - no último encontro da ANL, no Anhembi, em São Paulo. “Conheço você!” Disse-me. Agradeci. Já furtei, às escondidas: uma coca-cola família, de um caminhão de entrega de bebidas, uma lata de suspiros da minha avó Sarah e 3 bolinhas de time de botão, da Loja Lobrás, da Praça do Ferreira, no Ceará dos anos 1960. E nada mais. Pouco? Talvez. Ânforas são vasos confeccionados em barro ou terracota, de forma ovóide - quase sempre – de duas alças simétricas. A palavra "ânfora" vem do latim amphora, que por sua vez é derivada do grego amphoreus, uma abreviação de amphiphoreus, palavra composta combinando amphi- ("nos dois lados", "duplo") e phoreus ("carregador"), do verbo pherein ("carregar"). Lendo um post da escritora e amiga Betty Vidigal, no Facebook, sobre o Monte Testácio (Monte dos cacos), colina artificial construída na cidade de Roma durante os séculos I e III d.C., resolvi pesquisar e escrever sobre o assunto. O monte dos cacos formou-se por acumulação de fragmentos de ânforas. O monte abrange uma área de 20.000 m² na sua base e atinge 40 metros de altura. Situava-se dentro da Muralha Aureliana, conjunto de muralhas erguidas em Roma, entre 271 e 275, durante o reinado dos imperadores romanos Aureliano e Probo. A muralha englobava todas as Sete Colinas de Roma, além do Campo de Marte e do distrito do Trastevere, na margem esquerda do rio Tibre. O monte, composta por restos de cerca de 26 milhões de ânforas, sobretudo de azeite de oliva procedentes de lugares como a Bética, Tripolitânia, Gália e outros. As ânforas chegavam ao porto de Roma e lá eram esvaziadas, quebradas em pedaços e depois, depositadas - ordenadamente - no Monte Testácio. Visitei a Muralha Aureliana, em Roma, no ano de 2008. E o Monte Testácio? Não existia, até então. Roma é assim: kalunga - lugar sagrado - de almas e histórias. Deve ter sido por lá – no sol de outra encadernação – que depositei, desavisado de tudo, minha ânfora com azeite, palavras e livros.    

João Scortecci