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ALFREDO PETRILLI, O TIO VENDEDOR

Meu tio Alfredo Petrilli (1922 - 1987), cunhado da minha mãe Nilce, foi um vendedor ímpar, dos melhores que já conheci. Uma vez conseguiu vendeu para um cliente um automóvel semi novo, ao invés de um novo, zero quilometro, simplesmente alegando que o semi tinha infinitas vantagens. A maior: já vinha amaciado! Outra vez ganhou uma concorrência para confeccionar milhares de pijamas para o Exército brasileiro, com um modelo chinês, sem mangas e com apenas um bolso na frente da peça. Na verdade o tecido comprado para atender o empenho era insuficiente. Retirou, então, as mangas do pijama e eliminou um dos bolsos, deixando apenas um maior, deslocando-o para o meio, na altura da barriga, alegando maior mobilidade para o soldado em caso de combate. Funcionou! Do tio Alfredo guardo, com carinho, momentos inesquecíveis na minha vida de criança: Caldo de cana (Garapa), Água mineral com gás Prata e paixão por Lápis! Eram dias de verão - muito calor - e o encantamento deu-se no acostamento de uma rodovia estadual nas cercanias da cidade de São Carlos. Perguntou-me: Quer tomar uma garapa de cana? Sim. Respondi. Conhecia apenas os roletes de cana, comuns no Ceará. Depois, numa padaria de São Carlos. provei água mineral com gás. Outro encantamento! Isso tudo no ano de 1969, quando de férias em São Paulo. Desembarcamos - Eu e minha Família - no porto de Santos. Viagem incrível no lendário navio Ana Nery. Saímos de Fortaleza, passamos por Recife, Salvador, Rio de Janeiro e desembarcamos na cidade de Santos. Subimos a muralha em dois fuscas e um Sinca, pilotado pelo meu tio Alfredo. Destino: São Carlos. Foi o Tio Alfredo que me levou para conhecer a fábrica de lápis John Faber, hoje Faber-Castell. Fiquei maravilhado. Encantado com as máquinas cuspidoras de lápis. Já no final da visita o gerente da fábrica, amigo do meu tio, chamou-me no pé do ouvido e disse: Vê aquela sala lá no fundo da fábrica? Sim, respondi. Vai lá e pega para você quantos lápis conseguir carregar. Combinado? Testei os bolsos, a cueca e as mãos. Não mais do que 35 unidades! Ridículo, pensei. O jeito foi tirar a camisa, fechar os botões, dar nó nas mangas e improvisar uma canga. Devo ter deixado o alemão John Eberhard Faber (1822 - 1879) de boca aberta. Trato é trato! Cresci amando a John Faber e seus lápis e até hoje caminhamos juntos grafitando palavras do poema sem-fim.

João Scortecci