O primatologista inglês Richard Wrangham (1948 - ), autor do livro “O Paradoxo da bondade” (“The Goodness Paradox”), afirma que temos traços de bicho doméstico e que características de humanos modernos lembram as de animais como os cachorros. Dudu - meu fiel-canis-fox-alviverde - me encara, enquanto leio e – tento - escrever sobre lobos. Nossos irmãos! Wrangham, no seu livro, traça um capitulo inteiro sobre a evolução da bondade e da maldade humana, através da “autodomesticação”. Interessante. E o que isso significa ao pé da letra? Ele responde, no resumo da obra: sobrevivemos e evoluímos como espécie através da autodomesticação. Um “amansamento” natural, explica. Amansadura? Talvez. Dudu, meu irmão primata, já impaciente, sobe suas orelhas aos céus e me encara, de vez. Orelhas em pé é sinal de agressividade. Dudu mostra os dentes. Goodness paradox? Pergunto-lhe, coçando-lhe a barriga depois do ovo mexido, queijo ralado, creme de leite e pão de milho: quer brincar? Ele aceita. Jogo a bolinha. Ele corre, pega a bolinha e traz de volta. Repito a dose mais três vezes. Chega! Brincadeira sem-fim. Amansadura! Aqui com as minhas pulgas: seria caso de comportamento de autoadestramento? Ou, ainda, estado avançado de amansamento natural? Desconfio. Paradoxo: "proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano", algo assim. Levanto, então, as orelhas e mostro os dentes: Dudu é o cachorro do homem.
João Scortecci