Não sou Fluminense. Sou Nelson Rodrigues! Nelson - algumas vezes - nos disse: “O adulto não existe. O homem é um menino perene.” Na minha infância de menino danado, isso no Ceará dos anos 1960, gostava de pecar e pecar muito. Gostava de pinar com as moças no muro da igreja do Coração de Jesus, de brechar, peitos e bundas, no banho das tardes de calor, gostava de espiar pelo vão das telhas de barro do pensionato da esquina, o corpo ossudo e perene da menina Rita Twist. Um dia, do nada, ela sumiu. Nelson Rodrigues, então, sentenciou: “Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa!”. Beijei o Asfalto das tentações, castiguei-me com a toda nudez das mulheres da lua e me vesti, nu, nos braços da noiva. Eu - Nelson Rodrigues - e todos os pecados do mundo. Pecados veniais? Nunca! Todos mortais e perigosos. Antes de envelhecer - acontece – mordi, ainda, o rabo do cão vira-lata. Complexo de vira-lata? Talvez. Viralatismo, algo assim. Nelson Falcão Rodrigues (1912 - 1980) morreu jovem, amado e odiado, aos 68 anos de idade, no dia 21 de dezembro de 1980. Foi ainda, naquele ano, campeão carioca pelo Fluminense e artilheiro, nos pés do Claudio Adão, maior artilheiro perene do futebol brasileiro. A bola engana - sempre - as redes da trama. É gol, somente, quando balança a imortalidade. Sou perene - e exagerado -, nunca fui outra coisa! Até tentei. Juro! Felicidade igual não existe no corpo das venialidades da vida.
João Scortecci
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