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ENVIESADO, MAS LÚCIDO / JOÃO SCORTECCI

Trajetória das direções oblíquas. Viés? Talvez. Acordei com o assunto no pé dos ouvidos. Essa noite o radinho fora de sintonia chiou a noite toda. Queimou as pilhas até o zero. Sorte que tenho – sempre – um pacote guardado de pilhas novas. Não durmo sem ele! Mania de mais de 50 anos, desde que cheguei à cidade de São Paulo, isso no início dos anos 1970.  O assunto no rádio - antes do apagão - era sobre “viés cognitivo”, atalho mental que leva a decisões irracionais ou incongruentes com a realidade, algo assim. Interessante. Anotei na memória e tratei de dormir novamente. Mais 30 minutos. No dicionário “viés cognitivo” é um padrão de distorção de julgamento que ocorre em situações particulares, levando à distorção perceptiva, ao julgamento pouco acurado, à interpretação ilógica, ou ao que é amplamente chamado de irracionalidade. Isso explica, talvez, ter acordado enviesado, com dor nos olhos e com a língua seca. Bebi água e tratei de pensar nas distorções do dia: domingo de tempo fechado, querendo chover. Fiz ovos mexidos e comi com pão de milho e leite quente. Continuo pensando nas direções oblíquas da vida. Devo ter acordado com viés acurado. Doença chata, sem direção. Olho novamente pela janela da sala e o viés cognitivo do instante decide por mim: vou pegar a bike e pedalar! Navegar pela irracionalidade do rumo incerto, sem direção, sem julgamento, sem dor, mas lúcido. Preciso do sol? Certeza que sim. Enquanto ele "dorme de mim" eu espero de silêncios.  

João Scortecci