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FOLIA DE REIS E O CEARÁ DOS ANOS 1960

Eu tinha 12 anos de idade quando participei da minha primeira Folia de Reis, isso na cidade de Fortaleza, no Ceará dos anos 1960. Fui junto no embalo do povo devoto, sem saber exatamente o que era Folia de Reis, o que significava e muito menos o que ia acontecer. Verdade: nunca perguntei! Era tarde da noite. Nos reunimos na casa de amigos do meu irmão José e a noite prometia. Bebida a rodo, amores imaginários e ensaio – repetidas vezes - da cantoria da Folia de Reis: "Meu Senhor dono da casa abra a porta e acenda a luz / Abra a porta e acenda a luz / Pelo nome de Jesus / Aqui estamos em vossa porta / Em figura de Raposa, em figura de raposa / Nós queremos alguma coisa..." Silêncio. E agora o que acontece, quis saber. Alguém explicou: "Temos que esperar acenderem a luz e abrir a porta da casa!" E se não abrirem? Insisti. "Mijamos no muro!" Simples assim. Na minha primeira visita de Folia de Reis, numa casa do bairro da Aldeota, acenderam a luz e abriram a porta. Sorte! Então cantamos, antes de invadir a casa e assolar o bar, a geladeira e a dispensa da casa: “Esta casa está bem feita / Por dentro, por fora não / Por dentro cravos e rosas, por fora manjericão / Deus vos salve casa santa / Onde Deus fez a morada / Onde mora o cálice bento / E a hóstia consagrada..." Lembro-me que na minha primeira Folia de Reis assaltamos dezenas de casas. E também mijamos em duas. Gostei da brincadeira. A Folia de Reis tem origem na Europa e foi trazida para o Brasil no século XIX por padres portugueses. Trata-se de uma manifestação católica, cultural e festiva. É celebrada do dia 24 de dezembro ao dia 6 de janeiro, data da chegada dos reis magos a Belém. Surpresa foi a ultima visita da noite: minha casa! Papai Luiz e Mamãe Nilce acenderam a luz e abriram a porta. Entrem! Estava bêbado e com sono. Desmaiei no chão do banheiro e lá fiquei, travestido de raposa. No dia seguinte fiquei sabendo que Papai Luiz teve que carregar na Rural e levar pra casa, cinco ou seis reis magos. Bêbados, vomitados, todos devotos! 

João Scortecci