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O LEITOR DE LIVROS E O TRAPÉZIO

Vejo-me, assim, no movimento do trapézio. Arte pura! Vejo-me na fotografia do espelho, no desenho das sombras do sol, na ilustração do traço, na pintura das cores, na colagem das misturas, no rabisco das linhas, no corpo da estampa. Sinto-me perfil. Deixo-me leitor, no ar do trapézio. Reflexos? Talvez. Pergunto-me: Qual das escaladas devo subir? Duas em movimento: A dos degraus, das curvas, das pontes, das rampas, das lombadas, dos labirintos, dos precipícios ou a dos abismos da noite? Das quimeras, talvez. Minhas medições são letras do alfabeto, do glossário, dos capítulos, dos sumários, dos prólogos e das notas de rodapé. Meu celeste, escreve, assim: poesia nova no prelo! Leio verbos, linhas de mãos, bulas, bilhetes, dobraduras e mistérios. Segredos e tudo. Nas cordas do trapézio, não há vertigens e nem dor. Não há sebos e nem sangue seco, adormecido. Vejo-me páginas, versos, segurando ilhas de papel. Do alto do céu tudo parece circo e tablados. Mergulho, então - mortalmente - no corpo de Ícaro  - alma veloz - até o chão da terra. No fogaréu do trapézio: deixo-me livro. E leitor, também. E a vida segue feliz, tristemente. Hoje, dia 7 de janeiro, dia Nacional do Leitor. E neles escrevo perfis, espelhos e outros de mim.

João Scortecci