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PETIT GATEAU COM ISAAC NEWTON

Das primeiras causas: o homem poeta! Lendo Newton - o natural, filósofo - escrevi no corpo do guardanapo do almoço: reações opostas do Eu (verso 1), no nu das próprias palavras (verso 2) e adiante: sinto-me fracionado no mundo material das coisas! (verso 3). Fim. Limpei a boca e tratei de pedir para o garçon a conta do restaurante e voltar, ligeiro, para o trabalho do início do ano. "Espera!" Gritei, encurralando o garçon. Quero o guardanapo. "Sujo?" Perguntou-me. Sim, por favor. Respondi. Guardei-o no bolso. Isaac Newton nasceu no ano de 1643, no dia 4 de janeiro. Irmão de alquimia literária, algo assim. Hoje - mais do que nunca - ando esquecendo das exatidões da vida. Reabro o poema do guardanapo e ele, Isaac Newton, sussurra, na boca do estômago: “Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele.” Reações do Eu? Talvez. Continuo, então, explorando a geografia do poema-guardanapo: “A mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida, e é produzida na direção de linha reta na qual aquela força é aplicada.”. Entro, então, de vez, nas palavras do meu silêncio impróprio. Força motora imprimida? Silêncio pensativo. E nas bordas do poema sujo: “A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos.” Fracionei-me! Ações mútuas de dois corpos um sobre o outro! Alquimia do amor, pensei. Declaro-me, então: Infeliz guardanapo! Boca amarga, gordura ingrata, talheres cruzados, cruz de aço e vazios. Pergunto: "Vocês tem “petit gateau” de sobremesa?" Preciso de um. Talvez dois, ou mais. Newton que me perdoe a hora: quero rosetar minha alma de leão! Livrar-me do gosto amargo. Amanhã, outro dia, na desigualdade do impróprio, darei, então, um desconto justo e merecido. Vou pedir: salada de palmito, tomate e folhas verdes. Eu e as exatidões da vida: parcial, ingrata e cruel. E em linha reta! Na dúvida: outro poema-guardanapo e a sorte do prato do dia. 

João Scortecci