Pesquisar

POLISSEMIA POÉTICA

Uma tragédia: estou com polissemia na língua. Fui comer milho cozido e acabei mordendo-a. Do nada o Waze do carro começou a tagarelar uma língua estranha nos meus ouvidos. Chinês? Talvez. Saiu sangue. Muito! Cuspi pela janela do carro e sujei o vidro. Fiz bochecho. Tive que deletar o APP e tentar instalá-lo novamente. Sem sucesso. Polissemia brava! Deu pau de língua. Passei pomada Oncilon na danada e tratei de ficar de castigo: de olho no caminho. Limpei o vidro com papel. Fiz stop numa concessionária da Honda e pedi ajuda. Moço você faz pareamento de língua! O moço fez cara de briga. Expliquei, então. Ele sorriu. disse-lhe: Tem uma língua estranha no bluetooth do meu carro! Liguei o motor e mostrei a língua tagarelando. Polissemia é uma doença perigosa. Não tem cura. O Moço - ligeirinho - mexeu no computador de bordo e pronto! Sua língua está nova! Testei novo cuspe. Funcionou. O sangue foi longe. Leva 3 dias e depois cicatriza. Recomendou-me, então, sorvete. Ajuda, disse. Quanto devo pelo conserto da língua? Nada. A Honda agradece. No caminho de volta joguei a espiga de milho numa caçamba de rua e tratei de testar a língua do bluetooth. Liguei para a editora. Deu certo. Algum recado? Perguntei. Não. Polissemia é coisa séria. Vale o contexto, sempre.   

João Scortecci