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RUBEM BRAGA E A DESPEDIDA NAS ÁGUAS

Eu ando apaixonado por crônica. Ela mesma: paixão desbragada! Comecei - confesso - escrevendo prosa poética, combinando prosa com elementos poéticos, e do nada, amanheci preso em seus tentáculos, perdidamente. Fiquei. Hoje, exercício diário, necessariamente obrigatório. Quando não escrevo sinto-me vazio, devedor de mim mesmo, estranho. O cronista e jornalista Rubem Braga (1913 – 1990), nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Andei por lá nos anos 1970, tomando banho de cachoeira e espantando moscas do prato. Cidade das moscas! Na hora do almoço montávamos na mesa morrinhos de comida para enganá-las do prato principal: o nosso! Cachoeiro de Itapemirim terra também do cantor Roberto Carlos e Outros, também famosos. Rubem Braga iniciou-se no jornalismo aos 15 anos de idade, trabalhando no jornal Correio do Sul e no jornal Diário da Tarde, fazendo reportagens e assinando crônicas. Formou-se em Direito, em 1932, em Belo Horizonte, mas não exerceu a profissão. Como jornalista cobriu a Revolução Constitucionalista, movimento armado ocorrido nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, entre julho e outubro de 1932, que tinha por objetivo derrubar o governo de Getúlio Vargas e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. Em 1936 transferiu-se para o Recife, onde dirigiu a página de crônicas policiais no Diário de Pernambuco, o mais antigo periódico em circulação da América Latina, fundado em 7 de novembro de 1825, pelo tipógrafo Antonino José de Miranda Falcão. Fundou o periódico “Folha do Povo” e lançou, também, o seu primeiro livro de crônicas, “O Conde e o Passarinho”. Em 1947 em São Paulo, fundou a revista “Problemas”, do PCB - Partido Comunista do Brasil, que circulou até 1956. Durante a Segunda Guerra Mundial, atuou como correspondente de guerra junto à Força Expedicionária Brasileira. No exterior desempenhou função diplomática em Rabat, Marrocos, atuando também como correspondente de jornais brasileiros. Após seu regresso fixou residência na cidade do Rio de Janeiro, onde escreveu crônicas e críticas literárias, para o “Jornal Hoje”, da Rede Globo. Em 1987, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal. Em 1960, em sociedade com os escritores Fernando Sabino e Walter Acosta fundou a “Editora do Autor”, cuja divisão, em 1966, deu origem à “Editora Sabiá”, comprada, posteriormente, pela Livraria José Olympio Editora. Em “Despedida” (Livro: A Cidade e a Roça, Editora do Autor, 1964), escreveu: “E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.” Rubem Braga faleceu de insuficiência respiratória, no Rio de Janeiro, em 19 de dezembro de 1990, aos 77 anos de idade, em decorrência de um câncer de laringe. Foi cremado e suas cinzas lançadas ao rio Itapemirim, na imensidão da pequena pedra achatada.

João Scortecci