Anjo torto. Liberto e vazio. Arrasta suas asas e varre. Varre ossos, varre almas, varre tudo e todos. Varre! Sem uma direção, sem um norte, perdido. Pobre de nós os escolhidos. Provações? No céu: as tragédias. No chão, as dores. No ar, o cheiro azedo de pus: seroso, opaco, mortal. Quantas feridas! Quantas aflições. Espelho das cegueiras! Pobre país, o nosso. Pobre mundo, de todos. Somos o grito dos órfãos, o silêncio dos excluídos, a morte. Cadê a esperança prometida? O exílio feliz? Cadê o justo de nós? O escritor Bell (Lindolf Bell, 1938-1998) um dia nos disse: “Somos a geração das crianças traídas!” Nas catequeses, o sofrimento dói. Telhado de vidro: quebra-te, de vez! Chegou a hora. Na escuta do coração o derradeiro poema: Anjo torto, liberto e vazio. Meu país, nosso país. Infinita dor. O que nos assola: medo das águas, das enchentes, do fogo, da fome, da guerra, das iras. Penso nos filhos. Penso nos netos. Pobre Brasil torto e irônico. Falso? Talvez. Covardia dos demônios! Minha alma sofre, mais que sempre.
João Scortecci
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