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O EU E OS OUTROS DE MIM

Eu e os outros de mim - travestidos - andam procurando no sol: letras, palavras, versos e tempo algum. Poesia? Talvez. Calor dos infernos. Ajunto tudo e dou-me, então, a escrever algo qualquer. Acho que eles - minhas almas - estão tentando me dizer algo: sonhos, segredos e histórias, talvez. Anoto tudo. Acordei com respostas nos ouvidos e miados na cabeça. Gemidos: inesperados, incertos e confusos de tudo. Acontece. Não importa: são gemidos! Nada pode ser mais vasto que os mistérios dos meus outros. Parece que hoje - véspera de cinzas - eles estão encarnadas no rádio, nos jornais, na Internet e nas conversas da hora. Vieram para fazer o dia, creio. Os outros de mim - e eu, também - estamos aguardando o bloquinho de rua passar de vez. Ele chega virando a esquina da rua de cima: barulhento, desarrumado e alegre. Ocupa toda a janela de vidro. Palmas. Gritos. Imensidão. Quando ele chega, finalmente, significa que o carnaval do ano está no fim. O bloquinho é o último da folia, sempre. Depois, dobra o sol e o chão escaldante do asfalto. E morre - adiante - no silêncio dos infernos, na alegoria dos outros de mim.     

João Scortecci