Avós e netos. Reserva ou crueldade? Dói. Das ausências de pele e suas
imposições do ato do convívio. Das gerações do alfabeto e dos conflitos da
clausura. Nós avós - jovens e idosos - somos os voluntários do acolhimento, do
fraterno, das fraldas, das cólicas, das mamadeiras, das brincadeiras do nada,
das primeiras leituras e dos sorrisos da inocência plena. Somos voluntários,
sempre. Aceitamos perdas, dores e sofrimento. E o cansaço, claro. Aceitamos o
menor abraço, o não colo, o não aperto, o não cheiro no cangote, o confinamento.
Buscamos o avô cavalinho, o aportar das dobraduras de papel, a guarda dos lápis
de colorir, os brinquedos espalhados e até o jogar-se no chão e rolar feito
criança. Buscamos! Não aceitamos o distanciamento. Isso nunca! Eles podem nos
matar! É o que dizem. Provavelmente sim. Não nos poupem, por favor. Nós avós
somos Bombril, Brastemp e Super-heróis, sempre. Morreremos pelos filhos, morreremos pelos netos. Morreremos!
João Scortecci
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