A mineira de São Sebastião do Rio Verde, Professora Elisa Guimarães, colecionava corujas. Tinha centenas delas, espalhadas pelo seu pequeno apartamento na Rua General Jardim, no bairro de de Higienópolis. Anos depois mudou-se para a Rua D. Veridiana, também em Higienópolis. Lembro que durante alguns anos andei colaborando comprando corujas para a sua coleção. Conhecemo-nos nos anos 1990, na casa do escritor e crítico literário Fábio Lucas. Elisa era Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (1981), onde ministrou cursos de pós-graduação e orientou mestrandos e doutorandos na área de Letras. Foi professora titular na área de Letras nos cursos de pós-graduação da Universidade Mackenzie. Publicou 12 livros. 9 deles pela Scortecci Editora. 8 de Memórias de Viagens: Itália, Suíça, França, Argentina, Cuba, Canadá, Açores, Israel, Turquia, Santiago de Compostela, Évora, Valêmcoa, Pamplona, México, Estados Unidos, Itália, Portugal, Espanha, França, Roma e Terra Santa. E, na minha opinião, o que ela mais gostava: "Irmã Leticia: Memória de uma Carmelita Exemplar" (Scortecci, 2019), com várias edições. Professora Elisa Guimarães faleceu em 6 de dezembro de 2024, um ano depois do nosso último encontro, no lançamento do meu livro de crônicas Menino Tipográfico e outras histórias, volume I, no Espaço Scortecci. Quando criança – isso no Ceará dos anos 1960 – uma coruja-buraqueira amanheceu na boca da cadela Wanderléia, pequinês da casa, batizada com o nome da famosa cantora da jovem guarda. Tomei um susto. Wanderléia abriu a boca e a deixou cair, no chão. Cutuquei com o dedo e ela se mexeu. Vivíssima! Abriu os olhos e me encarou com amor. Foi paixão relâmpago! Dei-lhe, então, um pedaço de carne crua. A Zoiúda não comeu, de pronto. Ficou com o pedaço de carne pendurado no bico por alguns dias, até a carne apodrecer. Depois, engoliu. Zoiúda viveu na lavanderia da casa durante alguns anos. Gostava do barulho da máquina de lavar roupas e de dormir no balanço do varal. Um dia desapareceu e sumir de vez. Escafedeu-se! Quando visitei a coleção de corujas da professora Elisa Guimarães, procurei pela Zoiúda, sem sucesso. Lembro-me que, na época, encontrei uma muito parecida, trepada no alto da estante de livros. É você? Perguntei. Silêncio. Elisa Guimarães sorriu e voou no tempo, distante, até São Sebastião do Rio Verde e lá ficou: imortal e inesquecível.
João Scortecci