O tipógrafo, bibliotecário e livreiro francês Léon Scott (Édouard-Léon Scott de Martinville, 1817-1879) foi o inventor do fonoautógrafo. Em 25 de março de 1857, obteve a patente francesa nº 17 897 / 31 470; três anos depois, em 9 de abril de 1860, fez com o seu dispositivo a mais antiga gravação existente da voz humana. Léon Scott estava interessado em registrar o som da fala humana de uma forma semelhante à alcançada pela então nova tecnologia de fotografia para luz e imagem. Esperava com o seu invento criar uma forma de registrar a conversa inteira, sem omissões, à semelhança de técnicas de escrita abreviada, como a estenografia, a taquigrafia, a logografia, a pasistenografia, que utilizam caracteres especiais, permitindo que se anotem as palavras com a mesma rapidez com que são pronunciadas. Concebeu a gravação sonora pela primeira vez, quando, debruçado em um texto sobre fisiologia humana, imaginou uma nova possibilidade incrível: se a fotografia podia capturar imagens fugazes com lentes modeladas no olho, uma réplica do ouvido não poderia, de forma semelhante, capturar palavras faladas? Ele a chamou de "a ideia imprudente de fotografar a palavra". Diferentemente do fonógrafo, invenção de Thomas Alva Edison (1847-1931), o aparelho de Léon Scott criava apenas uma imagem do som. A partir de 1853, dedicou-se a desenvolver – por meio mecânico – uma técnica para transcrever sons vocais. Ao revisar gravuras de um livro de Física, deparou com desenhos de anatomia auditiva. Tentou imitar o funcionamento com um dispositivo mecânico, substituindo o tímpano por uma membrana elástica e o ossículo, por uma série de alavancas, que moviam uma caneta que ele propôs prensar em uma superfície de papel, madeira ou vidro coberta de negro de fumo, feito de carbono, usado em muitos produtos, como tintas, borrachas, plásticos e adesivos. Para coletar o som, o fonautógrafo usava uma buzina presa a um diafragma que fazia vibrar uma cerda rígida, inscrevendo uma imagem em um cilindro revestido de negro de fumo e de manivela à mão. Ele construiu vários dispositivos com a ajuda do fabricante alemão de instrumentos acústicos Karl Rudolph Koenig (1832-1901). A intenção de Léon Scott era possibilitar que as ondas do dispositivo fossem lidas por humanos como se lessem um texto, o que se mostrou inviável. Mesmo não tendo sucesso, o trabalho de Léon Scott serviu de estudo para o desenvolvimento futuro da comunicação gráfica – transmissão de mensagens por meio de elementos gráficos, como imagens, símbolos, cores, tipografia e formas. Léon Scott, no entanto, não foi capaz de lucrar com a invenção do fonoautógrafo. Viveu até os 62 anos e passou o resto de sua vida trabalhando como livreiro, lidando com gravuras e fotografias, na Rue Vivienne, 9, em Paris.
João Scortecci