Pesquisar

DEPOIS DA PANDEMIA / JOÃO SCORTECCI

Das domingueiras. Iguais, diferentes e únicas. O que fazia, o que faço e o que pretendo fazer, ainda, depois que a pandemia da Covid-19, passar de vez. A lista de “vontades” é grande. Tentações! Fiz as contas e descobri que vivi, até hoje, 3059 domingos. Pouco mais de oito anos inteiros. Muito, né? Tenho uma lista com tudo anotado. Segue: defequei fraldas, tomei mamadeiras na cama, apaguei velinhas de aniversários, comi bolo de chocolate e brigadeiro, soltei pipa, corri de havaianas no paralelepípedo, joguei bola de futebol na rua, nas esquinas, acampei no mato, no quintal de casa, joguei pedra, cartas, boliche e botão, matei calangos, cobras, passarinhos e preás, atirei com baladeira e mamonas, espingarda de chumbinho e cartucho, urinei no poste, no muro, nas águas, colei figurinhas, pesquei no rio Pajeú, no açude, no mar, no pesqueiro, briguei na rua, roubei frutas do quintal do vizinho, colecionei maços de cigarro, selos, tampinhas de refrigerante, canetas, livros raros, filmei 8, super 8 e VHS, fui fotógrafo, lobinho, escoteiro, fui à praia, ao campo, ao circo, a igreja, ao zoológico, ao museu, ao parque, ao shopping, ao estádio, fiquei de plantão no quartel, dirigi opala envenenado na Rua Augusta, tomei sorvete de frutas, café no aeroporto, sopa no Ceasa, fumei, comprei moto, fusca antigo, pedalei de bike, dancei, fui à academia, ao teatro, carnavais no clube, de rua, troquei beijos na praça, no cinema, abraços e segredos no trem noturno, almoços, jantares, fiquei bêbado, de ressaca, dormi na rede, no sofá, no chão, fui a velórios, comi pastel de feira, esfirra, ovos de páscoa, tapioca, quibe, pizza, churrasco, li e reli livros, escrevi muito, poetei versos de amor, de dor, histórias infantis, crônicas, compartilhei aloegos na Internet, assisti sessão da tarde, filmes de locadora, contei e escutei piadas, fui dono de restaurante, cozinhei feijoada, moquecas de peixe, rabada e ovos fritos, assisti TV, escutei rádio e fui menino corredor pelas ruas incertas de São Paulo. Tudo isso e mais um pouco de tudo. Fui intenso, danado, selvagem e amoroso. E pecador, também. Pergunta: O que fazer depois da pandemia? Um pouco de tudo e nada de diferente. Quero voltar a fazer o mesmo. Igual e diferente. O que preciso agora é permanecer vivo - sobreviver a tragédia - e nada mais.   

Dezembro de 2020.

João Scortecci